
As masculinidades em nosso país têm como elemento comum a misoginia, de modo que a identidade (e o vínculo de grupo) entre eles é criada com base no repúdio às mulheres e às suas qualidades. Uma das facetas mais cruéis dessa rejeição é a objetificação sexual feminina e a sua naturalidade em fazê-la perante outros homens.
A objetificação ocorre quando mulheres são socializadas para competirem entre si em prol da aprovação de homens. Quando seu comportamento, sua aparência física e suas qualidades emocionais são socialmente moldadas para o consumo masculino, como única finalidade. Essa objetificação autoriza uma série de violências contra as mulheres, sobretudo físicas e sexuais, ao colocá-las em condição de propriedade de homens, desconsiderando as subjetividades femininas, seus desejos e perspectivas.
A maior perversidade, no entanto, é constatar a imbricação entre a objetificação e a cultura do estupro: ao tempo em que são ensinadas socialmente a adotarem uma postura de disponibilidade e subalternidade aos homens, mulheres são responsabilizadas pelas agressões que sofrem.
A cultura do estupro está nas decisões judiciais que determinam quais mulheres podem ou não serem vítimas de um crime sexual em razão da adequação da sua conduta. Está nos grupos de whatsapp masculinos que chamam de vagabunda a mulher cuja pornografia consomem. Está ainda na sociedade que valida profissionalmente homens com histórico de agressores sexuais, relegando ao ostracismo àquela mulher cuja intimidade foi devassada.
A cultura do estupro reforça o duplo padrão sexual e legitima a exploração de corpos femininos para satisfação masculina.