
Ainda hoje a maternidade é cercada de estereótipos. Confundir “cuidar” com amar é um deles. Essa crença reforça o lugar de mulheres como principais responsáveis pelos cuidados com os filhos, tornando difícil para uma mulher precificar o valor do seu cuidado. A invisibilidade e gratuidade das tarefas desenvolvidas pelas mães se confundem com o amor incondicional (e devoção total) que delas se espera.
O judiciário perpetua a relação desigual entre genitores, sobrecarregando a mulher na função de criadora nas decisões sobre alimentos, eis que o que é levado em consideração para a fixação do valor da pensão são só as necessidades materiais do filho, como saúde, educação e moradia.
Mas e as demais coisas? Cadê a valoração do tempo e dedicação?
E se ao invés de a mãe cozinhar, vestir, banhar, transportar, acompanhar no médico, auxiliar nas tarefas da escola, limpar, etc, outra pessoa fizesse isso? Babás, cozinheiras, motoristas, professoras particulares, todos devidamente remunerados. Ou o próprio genitor, dividindo as atribuições do poder parental previsto em lei. Afinal, tais tarefas não dependem exclusivamente da mãe, cuja única função exclusiva é gestar e parir. As demais são investimentos de tempo e como tal devem ser incluídas no cálculo judicial.
Isso sem falar na sobrecarga mental e os impactos profissionais, já que o genitor responsável por tais atribuições de forma exclusiva não irá auferir renda na mesma proporção daquele que tem o privilégio de se dedicar exclusivamente à sua carreira.
A @ana.lucia_dias escreveu “O capital invisível investido na maternidade”- recomendo a todes que leiam, e está disponível aqui- https://www.cartacapital.com.br/opiniao/o-capital-invisivel-investido-na-maternidade/ no qual defende que:
“Se uma mulher está obrigada a uma demanda desproporcional na atenção e cuidado com os filhos porque ela é mãe e tal prerrogativa recai exclusivamente sobre ela, é discriminação de gênero, porque atrela-se o cuidado com a criança ao fato da mulher ser mulher.
[..]Porque amor não tem preço, mas cuidados, tempo de dedicação e a assunção de várias funções tem preço. E deve ser partilhado!”
