
Machismo fantasiado de elogio
Racismo transformado em brincadeira
Homofobia em tom de piada
Falar o que se pensa em tom de brincadeira ou ofender alguém com uma piada são atitudes cruéis. Além da evidente desvalorização da identidade do outro, tem uma efeito ainda mais perverso: o silenciador.
Ah, mas “hoje em dia não se pode nem mais elogiar uma mulher”, dirão uns.
“Não dá para falar nada que tudo é racismo”, dirão outros.
Ou “foi só uma brincadeira”, sustentarão.
A forma sutil de se ofender - alguém ou uma raça inteira – faz parte das estruturas silenciosas da opressão e retira do outro a prerrogativa de responder ou se insurgir, já que qualquer gesto além de um sorriso amarelo de complacência será visto como um ataque histérico de um chato mimizento.
Acontece que a tolerância com as violências nossas de cada dia são o sustentáculo do feminicídio, transfobia e do racismo. A banalização da agressão faz com que ela se torne natural e, logo, imperceptível.
E, quando apontadas, tais violências são novamente caladas – e deslegitimadas – porque “não foram por maldade”. E essa justificativa, inicialmente aceita pelo benefício da dúvida, é utilizada à exaustão como isenção para qualquer responsabilidade ou mudança. Outorga-se a (auto) licença para continuar ofendendo e humilhando sob a conveniência do desconhecimento.
Falar sexualmente sobre o corpo de uma mulher que não se conhece não é elogio.
Ridicularizar atributos físicos de uma raça não é brincadeira.
Designar pessoas pejorativamente em razão da sua orientação sexual não é engraçado.
Isso se chama violência e, chamando pelo nome talvez perca um pouco de graça nesse mundo tão politicamente correto, né?