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PATERNIDADE ATIVA


A toda hora temos o reforço dos estereótipos de gênero e parentalidade, seja em nossa sociedade, em nossas relações interpessoais e, sobretudo, no sistema de justiça. A insistência na manutenção de uma sexualidade “normal”, de uma família “tradicional” e de “super” mães” deixam atrás de si um rastro de marginalidade jurídica, desamparo estatal e sobrecarga de tarefas domésticas e cuidado dos filhos às mulheres.


O mesmo país que nega a possibilidade da mulher interromper – em razão de uma decisão individual – uma gestação é aquele que fecha os olhos para o abandono afetivo e que tolera uma lei de alienação parental. É o lugar onde é aceitável que 5,5 milhões de crianças não tenham o pai no registro de nascimento ao tempo que não admite a homenagem a formas “não tradicionais” de paternidade.


Esse tipo de preconceito reforça a ideia de que a mulher deve cuidar da casa e dos filhos, enquanto o homem é o responsável por colocar “comida na mesa” (perdoem o deja vu dos livros de história sobre o século XVII). O furo dessa “teoria” é que – de acordo com o IBGE -11, 6 milhões de mulheres exercem a maternidade solo no Brasil, muitas delas sem nenhuma contribuição financeira dos supostos pais, que dirá auxílio na criação, divisão de tarefas ou suporte emocional.


E essa fixação de papeis de gênero impede que se abram espaços para outras formas de parentalidade. Afinal, pai não é aquele que apenas paga a pensão. Sobretudo uma pensão que sabe ser insuficiente para custear todas as despesas dxs filhxs, o que sobrecarrega injustamente a mãe. Pai não é aquele que esconde um aumento ou obstaculiza que a pensão incida nos valores de participação nos lucros, impedindo que a criança ou adolescente goze do mesmo padrão de vida. Pai não é aquele que, tendo dinheiro, paga a pensão quando quer, atrasando de propósito os valores que vão garantir a subsistência dxs próprixs filhxs.


Pai também não é aquele que “visita” filhxs. Que duas vezes por mês vê as crianças durante dois turnos, esquecendo que elas existem nos outros 28 dias. Pai não é aquele que não sabe quais as alergias alimentares dx filhx, que hora elx dorme. Nem o que desconhece qual profissão elx gostaria de ter no futuro.


Pai não é aquele que alega alienação parental no processo de divórcio para obter vantagens na partilha, tampouco o que ameaça pedir guarda compartilhada quando não concordar com o valor pedido a título de pensão. Pai não é aquele que utiliza a modificação da guarda como chantagem sentimental, nem o que acha que a violência doméstica praticada contra a mulher não afeta os filhos.


Por fim, ser pai não é "ajudar" a mãe. Paternidade ativa requer responsabilidades iguais. Portanto, pai não é aquele que se exime das tarefas domésticas, dos cuidados com o filho, da rotina de escola, atividades extracurriculares e médicos. Não é o que finge não ouvir o choro do bebê à noite para não levantar. Paternidade ativa exige transcender o modelo de masculinidade aprendido, aquele baseado na rigidez, para se debruçar também sobre o afeto.


Que os pais possam assumir a metade da parcela que lhes cabe- não só no provimento econômico- mas, principalmente, nas demandas emocionais.


E que os super-pais não sejam a exceção, para que as super-mães não tenham que ser a regra.



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