Você sabe o quanto seu filho custa?

Essa pergunta parece banal, mas não é.
Cada vez que a faço no escritório me surpreendo com a ausência dessa informação pelas clientes. As que se arriscam a mensurar um valor geralmente só elencam os gastos “maiores” ou que sejam exclusivos da criança/adolescente, a exemplo de escola, plano de saúde, fraldas.
Se as mães que são – na maioria dos casos de divórcio – a residência de referência da criança (o que independe de guarda) não tem essa informação de forma clara, o problema se acentua ainda mais quando falamos dos genitores – principalmente em relação àqueles com quem a convivência é mais espaçada – e seus advogados.
Mas você já pensou na ESTRUTURA que envolve para criar uma criança? Além desses gastos diretos, ela precisa de uma moradia, alimentação, transporte, lazer. Esses gastos acabam ficando invisibilizados porque em regra são suportados por aquele com quem o(a) filho(a) mora, representando um comprometimento expressivo do orçamento da mãe, que geralmente compromete MUITO mais do que 30% dos seus rendimentos – percentual comumente fixado pelo judiciário –para sustento da prole.
Na semana passada estava negociando um acordo de alimentos com um advogado. Ele disse que o pai se propunha a pagar a escola e o plano de saúde e que isso já representava 80% dos gastos da criança. Eu não sei se chorava ou dava risada.
Falei sobre a moradia, afinal a criança precisa de um espaço – o que muitas vezes requer um apartamento maior, e consequentemente, mais caro, ela precisa de móveis, toalhas, lençóis. Quando mencionei isso ele disse que ela teria esse gasto de qualquer forma, pois tb precisava morar e ele não ia “pagar as contas dela”. Oi?
A casa precisa estar limpa, o que demanda gastos com produtos e com alguém para limpar. Ou o tempo da genitora para isso.
Levar a criança para a escola, médicos e atividades extracurriculares exige gasto com combustível, táxi ou ônibus.
Claro que, quando me refiro a gastos que não são exclusivos da criança, o valor do item é dividido por todos aqueles que usufruem, por exemplo, todos que moram na casa.
Parece óbvio dizer que a existência de uma criança exige uma estrutura diferente em uma casa. Mas cada vez mais tenho a certeza de que o óbvio precisa ser dito: você sabe o quanto seu filho custa?
E isso que estou falando "apenas" da divisão material das necessidades da criança ou adolescente, aqueles que podem ser comprovados e listados em tabela. Sequer mencionei o tempo e energia dedicados, a carga mental imposta à mãe e como a maternidade repercute na vida profissional da mulher, por exemplo.
A nossa sociedade só caminhará para a igualdade quando o cuidado também passar a ser valorizado como trabalho e, portanto, monetizado!